terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Duas imagens simples

Achado num caderno de 2011

Duas imagens muito simples guiam ou preparam o trabalho que quero fazer.

  • Que as pessoas deveriam ser deixadas sós, que elas precisam ser deixadas sozinhas com suas vidas.

  • E que esta opção nunca esteve de fato disponível. Só por uma cooperação inédita será possível que nós possamos viver simplesmente nossas vidas. Por isso, temos que reunir, produzir, este ineditismo fantástico.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Alguns pontos sobre Marx

Alguns pontos sobre Marx:

1. A obra dele deve ser lida retrospectivamente, a contrapelo, de 1857 para trás. É possível assim reconstruir uma história fragmentária da tentativa de Marx de captar o conceito da época capitalista, de modo que cada obra relevante, na falta daquilo que só virá depois, aparece como uma solução algo precária para um problema em vias de definição.

2. Entretanto, essas soluções parciais não são equivalentes. A solução a que Marx (com Engels) chega em 1845 lança um fundamento que Marx nunca abandonará, que pode ser chamado, como Engels o nomeou, de concepção materialista da história.

3. Esse fundamento, entretanto, não dá conta do elemento crucial do capitalismo enquanto dominação abstrata, o caráter abstrato, exclusivamente social, da materialidade da conexão social sob o capitalismo. O materialismo histórico, enquanto tal, compreende a conexão social enquanto sistema ou totalidade de relações sociais. Escapa a essa concepção o caráter coisal, substancial e autonomizado, da conexão social como valor.

4. O materialismo histórico continua capaz de descrever em termos positivos um conjunto de relações sociais, mas não apreende em termos adequados o papel do capital enquanto sujeito que usurpa a agência coletiva.

5. Por isso, a concepção materialista da história indica os termos gerais de um funcionamento social, mas não sua diferença específica. Enquanto fundamento, é um fundamento negado, suspenso.

6. Em sua versão do prefácio de 1859, o materialismo histórico lanças as bases para uma interpretação da "superestrutura" como o momento de atualização, efetivação, das tendências geradas pelas contradições das relações de produção stricto sensu. Com base nisso, é possível pensar a própria luta de classes como dividida entre uma luta de classes em si, potencial, composta por tendências puras, e uma luta de classes para si, na qual essas tendências vem a ser por meio de conflitos concretos.

7. Esta tese é diretamente anti-economicista, mas também anti-politicista, porque deixa de identificar um "motor" positivo para a história, seja ele a luta pelo produto, seja a luta pelo status. É a estrutura em si que, antagônica, predispõe a um conflito que só se confirma por meio das formas concretas deste conflito, que, por sua vez, constantemente reorganiza os termos de tal disposição.

Por hoje é só.